Notas sobre: Ballad of Today de André Cepeda
Curadoria: Urs Stahel
23/09 - 25/01/2021
Ao entrar na primeira sala da exposição é possível ouvir um chamamento, uma batida que de longe desperta a nossa atenção para o que existe na sala que se segue. O som acompanha o nosso olhar- antes e depois de entrarmos na sala que isola a peça sonora- o seu ritmo perpetua-se no nosso interior, mesmo quando nos vamos afastando. Fica para trás o ruído e continuam as imagens, agora com mais presença de cor e mais vezes sob a luz do dia -ao contrário das duas salas anteriores essencialmente monocromáticas e noturnas- são fotografias de lugares e objetos, singulares ou perdidos, onde habitam pessoas nessa mesma condição. Percebemos claramente que é na periferia da cidade que estas imagens acontecem, o movimento da cidade é quase inexistente e a sensação de abandono está constantemente presente. André Cepeda caminha e explora, parece ter um olhar curioso sobre estes lugares. Através das suas imagens percebemos a liberdade que o seu corpo tem, onde pode ir e até onde se consegue aproximar. Pouco se aproxima dos corpos masculinos que habitam aqueles lugares: observa-os quase sempre de longe; aparecem-nos em movimento, a ir ou a voltar, de costas ou de lado e quase sempre com alguma distância. As mulheres nunca as vemos de longe, aparecem-nos sempre de perto, em imagens com formato de retrato e por isso sabemos que André conseguiu chegar perto delas. Conseguimos pensar que estas imagens dificilmente poderiam ser captadas por um corpo feminino que não possui as mesmas condições de liberdade que um corpo masculino. Dificilmente uma mulher se iria expor a tamanha vulnerabilidade e caminhar por zonas perdidas e abandonadas, sozinha- muito menos durante o anoitecer- mas nunca por falta de curiosidade, apenas por falta de liberdade. As próprias mulheres que André Cepeda fotografa não caminham, estão paradas, sentadas; são observadas, mas também devolvem esse olhar.
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