Hearing Haid , Michael Snow (1976)
Em "A Exposição Invisivel” na Culturgest, Lisboa
26 SET 2020 – 17 JAN 2021
Curadoria de Delfim Sardo
Numa sala vazia, perto do final da exposição, está a obra de Michael Snow Hearing Haid de 1976: uma instalação sonora com cinco objetos dispostos na diagonal pelo chão: o primeiro, um metrónomo situado a um canto da sala, os outro quatro, são gravadores, e cada um toca uma cassete de 90 mins. O som do metrónomo é gravado pela primeira cassete, essa primeira gravação é tocada e posteriormente gravada pelo segundo gravador; e este processo é repetido pelo terceiro e quarto gravadores. A peça sonora é assim composta por várias camadas de som, um deles existe no presente (o som do metrónomo), os restantes (reproduzidos pelos quatro gravadores) pertencem a uma espécie de “passado”. Cada gravador é um eco do metrótomo que dá origem ao primeiro som. A exposição no seu todo parece assemelhar-se mesmo à sensação de eco presente em Hearing Haid: as salas parecem funcionar como gravadores de som que são reproduzidos em simultâneo. A segunda sala- que contem a primeira obra sonora a ser tocada em colunas- , One Million Years de On Kawara aparenta funcionar como um metrónomo, as salas seguintes como gravadores de som e, quanto mais vamos avançando pelo caminho a que a exposição nos conduz, mais camadas de som se acumulam na nossa audição. Avançamos por cada sala e as peças sonoras anteriores ainda invadem as salas que se seguem. A certo ponto One Million Years já não é audível, mas o seu som continua em ressonância na nossa memória até ao fim da exposição. A exposição torna o espetador consciente do mecanismo efetuado pelo nosso próprio aparelho auditivo, e Hearing Haid materializa esse mesmo processo invisível.

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